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Entre setembro e outubro deste ano duas publicações chamaram minha atenção: o novo livro do Dr. Joe Webb e Richard Romano de nome The Third Wave ou Terceira Onda e a pesquisa liberada pelo Two Sides chamada Print and Paper in a Digital World ou Impressão e Papel em um Mundo Digital. Passo a comenta-las.

A pesquisa da Two Sides é relevante, assim como é muito relevante o trabalho dessa organização, tão bem representada no Brasil pelo Fabio Mortara, e que enfatiza as reais dimensões da comunicação entre o digital e o impresso, combatendo o chamado greenwash, ou propaganda enganosa sobre o uso do papel como vilão da natureza, sem deixar de reconhecer a importância do ambiente digital. A pesquisa, realizada em 10 países, Brasil no meio, foi realizada em diferentes partes do mundo, indo da Europa, Oceania, África e Américas, entrevistando mais de 10.000 pessoas de idades variando de 18 a mais de 55 anos. Com a finalidade de explorar grandes vertentes em relação a obtenção e a credibilidade dos respondentes às informações, noticias e propagandas recebidas através dos diferentes canais de mídia hoje disponíveis e sua comparação. Só senti falta de pesquisa na Ásia, mas a base não deixa de ser importante.

O resultado das repostas chave obtidas é bastante interessante, a ver:

Em média. mais de 70% dos respondentes dizem que ler livros e revistas impressas é mais agradável do que ler em forma eletrônica, número que cai pra 55% dos leitores de jornais, enquanto somente 33% preferem ver contas de agua, luz, etc. impressas, mostrando que as contas online e o uso do celular vão aumentando a confiança nos dispositivos eletrônicos. Mas é mais uma boa noticia para livros e até mesmo revistas e jornais. Tirando livros, no entanto, o duro para esses outros meios é a queda de publicidade nas publicações impressas obrigando que criem cada vez mais uma modelo de oferta em multiplataformas par atingir seu público.

As fake news, as chamadas notícias falsas, têm preocupado 76% dos respondentes. Por isso, imagino, é que 51% dizem ter mais confiança em noticias impressas em jornal do que as divulgadas pelas mídias sociais. Além disso 65% das pessoas dizem ter melhor entendimento quando leem em papel do que online. Não é um sentimento novo, muito já se tem mostrado de que a leitura estática permite maior concentração. Até já citei aqui em artigos anteriores o fenômeno do finishibility, ou a leitura do começo ao fim de um artigo, menos dispersiva do que as distrações do online.

Falando nisso, 43% das pessoas declaram que dedicam menos tempo hoje do que no passado na leitura de livros e mais de 60% deles na leitura de revistas e jornais. São os hábitos que vão mudando embora os que leem em material impresso regularmente são os que persistem na sua leitura. Mesmo assim 76% das pessoas leem noticias em mídias online e 50% pretendem ler mais noticias online no futuro. Isso parece contraditório em relação ao dito no parágrafo anterior, mas entende-se que hoje somos envolvidos pelas mídias onde quer que estejamos. Recebemos hoje muitas novas noticias online e eletronicamente e mais tarde as lemos de forma estática, mais ainda, claro, os que estão habituados a essa leitura.

O uso dos aparatos eletrônicos preocupa. 52% acreditam que gastam muito mais tempo online do que deviam e 53% estão preocupados que a overdose de uso pode lhes trazer danos a saúde. Mais de um terço acham que já estão sofrendo disso. Bom, nem precisamos de pesquisa saber isso com o que vemos no dia a dia. As pessoas estão cada vez mais agindo como autômatos concentradas em seus celulares, tropeçando pelas ruas ou batendo seus carros... A coisa é séria.

Em relação a material de marketing e propaganda 52% dos respondentes afirmam que preferem ler catálogos impressos a digitais e 45% deles concordam em receber material impresso personalizado entregues em casa com 46% prestando atenção neles. Esse é um percentual bem acima do visto em propagandas digitais que tem um grau de dispersão muito maior e confirmados pelos 56% que afirmam responder melhor a informações de material impresso do que em email marketing. Uma boa informação a ser divulgada para os marqueteiros, não é?

Essas respostas só reforçam os 68% que dizem não prestar atenção a propagandas online e dos 57% que dizem evita-las. Ainda mais que 60% declaram não se lembrar da última vez em que clicaram nessas propagandas. É o bombardeio nosso de cada dia. Se não nos prende a atenção ou se não estamos envolvidos, apaga.

Por fim, 89% dos respondentes afirmam que eles deveriam ter o direito de escolher como receber as comunicações de organizações financeiras e prestadores de serviço, se digital ou impressa. A verdade é que somos hoje bombardeados por todas as empresas para que aceitemos faturas e extratos digitais, muitas ainda apelando para o lado ecológico do salvamento de árvores quando na verdade sabemos que o que querem é mesmo economizar custos de correio. É o que 62% dos participantes da pesquisa confirmam. Nesse aspecto a questão da segurança de informações também vem à tona, sendo que 71% dos participantes da pesquisa afirmam ter preocupações sobre seus dados pessoais estarem guardadas eletronicamente e que 73% acreditam que guardar cópias impressas em casa é o meio mais seguro de guardar informações.

Enfim, fiz questão de apontar todos os pontos levantados pois não deixa de ser um resultado interessante mostrando as preferencias de muita gente pelo material impresso. Alias, como ressaltei em artigo anterior sobre a revanche do analógico, o sucesso hoje em dia das tecnologias digitais está permitindo ressaltar as vantagens comparativas do material impresso em muitas aplicações. Como se dizia que o mundo impresso ia acabar, o sucesso do digital nos permite hoje fazer escolhas. E em muitos casos os papel se sai melhor, é ainda mais crível e preferido em muitas situações ainda que o digital nos vá envolvendo e modificando a forma como o mundo se comunica.

Neste ponto queria fazer relação com a outra publicação que citei no inicio, o novo livro dos amigos Webb e Romano, a Terceira Onda que foi lançado na última feira Print em setembro, realizada em Chicago. Na verdade eu já havia feito referencia a esse tema também em prévio artigo aqui publicado quando Dr. Joe publicou um texto a respeito no WhatTheyThink!, já um prenúncio do próprio livro.

Mas, voltando ao tema, a que ondas eles se referem, ainda mais a terceira? São as ondas das novas tecnologias de informação que vem modificando a forma como todos nós nos conectamos e nos comunicamos e que vêm afetando a impressão há um bom tempo. Se antes imprimir era imprescindível, hoje seguramente não. Mais do que isso, ainda que tecnicamente imprimir possa ter tido evoluções das novas tecnologias de reprodução, tecnicamente ela não se modificou, mas, sim, a maneira como consumimos e usamos o material impresso e, via de consequência, o que trouxe e ainda trará de consequência aos negócios que vivem da impressão e sua evolução.

Para então se formar um histórico desse impacto, os autores estabelecem a primeira onda em 1998 com a chegada da internet e a migração online da sociedade. A segunda onda, em 2008, foi o duplo resultado da expansão das mídias sociais e dos aparelhos móveis com a migração da sociedade para os smartphones e as redes sociais. E agora estamos entrando na terceira onda, tendo como marco referencial 2018, trazendo fones móveis ainda mais espertos e mídia social acoplada com inteligência artificial e IoT, a internet das coisas, nos tornando ainda mais interconectados com nossos aparelhos, muito mais do que antes.

As duas primeiras ondas de disrupção, tecnológica e de mídia, tiveram profundo efeito sobre a demanda de impressão e na indústria gráfica como um todo e a terceira, dizem eles, significa que vai trazer ainda mais impactos, mas não significa que haverá uma destruição do negócio gráfica. Como nas outras ondas, a disrupção irá acontecer, quer se queira ou não e, portanto, o que devem fazer aos que estão no mercado, é estar na frente da onda e adaptar-se às mudanças que estão a caminho.

A terceira onda, enfatizam os autores, propõe mudanças arrojadas à maneira como os negócios gráficos são administrados hoje e amanhã. Lidar com os efeitos dessa onda envolverá mudanças na maneira como o negócio gráfico aborda o capital, o investimento, o emprego, a gestão e propriedade, indo até a produtos e serviços oferecidos. Essas mudanças, insistem os autores, permitirão a essas gráficas a estar melhor habilitadas para servirem às mudanças de mercado em um futuro não muito distante.

Muito se tem falado e escrito sobre a chamada revolução da indústria 4.0 e (veja o capara da transformação global) , no nosso caso específico, com frequência nos referimos à Print 4.0. Automação de fábricas, interligação com clientes, inteligência artificial na programação e gestão de produção, equipamentos flexíveis para demandas flexíveis e um ambiente cyber físico permitindo a formação de produtos físicos junto com serviços que absorvem processos dos clientes criando uma oferta de valor conjunta e de longo prazo.

Essa transformação está em gestação e mesmo em gradual implantação em várias gráficas pelo mundo. A mudança de mentalidade para isso está em pleno curso, mas muitos gráficos ainda não a compreendem, o que é natural, mas o tempo se encarregará de mostrar. Em um próximo artigo nos ateremos mais a esse aspecto de transformação.

Mas, por fim, o que essa questão da terceira onda tem a ver com a pesquisa da Two Sides? Que apesar das mudanças e da digitalização do mundo ainda há e haverá espaço para o material impresso. E nem me refiro aqui àqueles com pouca probabilidade de substituição como as embalagens. Muitos tipos de impressos continuarão a ser valorizados em todas as circunstâncias em que suas vantagens comparativas com o digital lhe forem favoráveis, como ressaltado na pesquisa. E sua produção será ainda mais integrada com as necessidades e demandas dos clientes impactando as empresas na forma de produção e na gestão do próprio negócio.

Prepare-se; e que venham as ondas.

 

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